domingo, 29 de janeiro de 2012

Educação e Cybercultura

Por Felisberto Vasco Gonçalves


As mudanças que certamente deverão afetar os sistemas educacionais como resultantes do progresso na área de engenharia de sistemas, nanotecnologia, eletrônica digital e tele-transmissão de dados compartilhados, mudarão de vez a cultura  e o modo dos humanos adquirirem e construírem  seu conhecimento?  Essa parece ser uma das grandes questões levantadas hoje por especialistas em educação à distância. O aprendizado será, desta vez, realmente democrático e ao alcance de todos? A quem não interessaria essas mudanças no comportamento dos aprendizes, que poderão vir de praticamente todas as classes sociais? Pierre Lévy considera a fantástica possibilidade dos aprendizados personalizados e ao mesmo tempo cooperativos, sugerindo que o docente se tornará num “animador da inteligência coletiva”, ou o que quer que isso venha a ser.  De modo quase visionário, embora bastante convincente, o autor apregoa que as universidades do futuro estariam contribuindo para uma nova “economia do conhecimento” ao organizarem comunicação entre empregados, indivíduos e recursos de aprendizado de todo o gênero.  O debate se remete às raias da filosofia quando o autor teoriza sobre a vastíssima capilaridade da rede mundial de informações  compartilhadas por bilhões de usuários em todo o planeta, como se a autoria do conhecimento supremo suprimisse uma “fonte de saber supremo” de origem divina, o que efetivamente imprime bastante liberdade nas elucubrações e suas autorias. Quanto à multiplicidade e o volume de informações, Roy Ascott, citado pelo autor do texto, compara tal enxurrada de conhecimentos a um dilúvio de informações, que queira deus não encharque e afogue as múltiplas culturas do planeta numa mesmice que não poderá facilitar o Big Brother do capitalismo consumista.  Numa pincelada digna de um mestre da pintura impressionista o autor lembra que num momento de frágil equilíbrio, “quando o mundo brilhava com suas melhores luzes, as fumaças da revolução industrial começavam a mudar a cor do céu”. Pessoalmente, eu consideraria aqui a discussão da apropriação do conhecimento pela burguesia como um remédio para combater o ócio, versus a apropriação do conhecimento por parte dos operários e camponeses.  Mas o autor bem lembra que até o momento das “fumaças da revolução industrial” (...) “um pequeno grupo de homens podia ter a esperança de dominar a totalidade dos saberes” e exercer seu domínio sobre os demais, através das características hegemônicas que pode auferir aquele que detém os saberes. Me impressionou a veia retórica de Lévy (Sorbonne-8, quem diria?...) quando fala da “vulgata mediática e a pretensa frieza do cyberespaço, quando quer se fazer entender quanto à popularização dos meios eletrônicos de popularização do conhecimento, a banalização cultural e o que seria talvez um novo modo de interação das pessoas, que possivelmente teriam a tendência de se isolarem mais. Lévy bem lembra que nunca se reclamou quanto ao fato de algumas pessoas passarem várias horas frente a uma página de papel, fato aliás, elogiado por muitos que consideram importante a divulgação do conhecimento através dessa mídia. Lembra ainda que o fato de o texto estar em uma tela não muda o fundo da questão do isolamento social.  O texto pontua com excepcional brilhantismo a mudança de foco da memória coletiva, dos repositórios costumeiros em variadas culturas, para um cyberespaço onde  construiriam coletivos inteligentes.  Uma multidão de cientistas de todos os países formaria uma espécie de microcosmo com grande projeção na comunidade internacional.  Desta vez, quero crer vários Noés poderão se salvar, navegando nesse profuso dilúvio de informações, colocando dentro de suas arcas aquilo que de melhor possui a humanidade para que possa ser preservado, compartilhado e construído coletivamente. Seria a paz cibernética?

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